Resenha | Homem-Aranha: 11 de Setembro

Já são 18 anos desde o ataque do 11 de setembro que parou os Estados Unidos e o restante do mundo. Hoje, a edição de resenha é especial e traz a HQ escrita por J. Michael Straczynski e desenhada por John Romita Jr., publicada pela Marvel Comics e lançada no Brasil pela Panini Comics em 2002. A edição tem a marca de sua capa inteiramente preta. 

 O texto narrado pelo Homem-Aranha, tentando justificar onde estavam os heróis enquanto Nova York passava por sua maior tragédia, carrega um enorme peso de culpa, compaixão, medo, angústia e tristeza. O lamentar, que não é só do herói mas também do vilão, dos familiares, das equipes de resgate, é alto demais naquele momento. 

A composição das cenas com as palavras escolhidas encaixam perfeitamente na situação. Às vezes pode soar um pouco “vazia” a forma como ele começa a explicar que certos acontecimentos na humanidade não estão ao alcance de qualquer proteção, mas pelo fato de que é quase impossível acreditar que  alguém possa pensar em fazer uma maldade deste tamanho. Maldade essa que a história humana “paga com moeda de ossos e de sangue”, que nem mesmo a voz “do pior dentro de nós” acha certo. 

E em vez de dar protagonismo a si mesmo, ao Capitão América ou a qualquer outro “trajado”, passa os louros para aqueles que realmente trabalharam em busca de salvar nem que fossem os últimos suspiros de uma vítima. A alternativa encontrada pelo escritor foi bastante coerente nesse ponto de vista, já que foi uma tragédia que aconteceu no mundo real, onde não existe um Peter Parker com super força e sentido aranha para impedir a colisão do avião nas Torres. 

O manifesto político é grandioso. Os desenhos falam por si só, mas o discurso de ódio implantado nos balões parece ecoar nos ouvidos de quem está lendo. Uma verdadeira denúncia à xenofobia, à homofobia, ao machismo e à intolerância religiosa. E vejam só, o discurso de ódio sai da boca de quem mais se acusa politicamente correto ou até mesmo de quem mais viu o seu próprio povo sofrer. Não é sobre pintar a América como “boazinha”, mas sobre mostrar quem realmente paga o preço alto das outras atrocidades escondidas debaixo das bandeiras

Logo em seguida vem o discurso heróico, esperançoso, patriótico. É preciso coragem para se levantar no meio da dor e tentar mais uma vez a caminhada de boas lembranças e um mundo digno para se viver. Soa quase como “cidadão comuns que lutam, nós usaremos nossos dons para lutar por vocês”. Podemos dizer que o sentido dessa edição é dar coragem a cada estadunidense que ler a revista, despertar nas pessoas o sentimento bom que nasceu com elas e a maldade do mundo as fez acreditar que não existia mais. Convencê-las de que o sonho ainda não acabou. 

Ilustrações de símbolos patrióticos como a Estátua da Liberdade (que liberdade?), dos heróis da Marvel Comics enfileirados ao lado dos heróis reais do século 21, dos cidadãos “mais nobres do que pensam e mais fortes do que imaginam”, em sequências de páginas que encerram a pequena edição memorial ao atentado do 11 de setembro, fazem o papel final do convencimento do famoso Sonho Americano. 

Por mais que ainda possa soar patriótico demais, a missão da equipe criativa foi cumprida. J. Michael Straczynski, John Romita Jr e todo o restante conseguiram transformar até a página blackout em um símbolo de significância, em um exemplo de como prender o leitor. Até quem mais esperava ver uma grande aventura do Homem-Aranha lançando teias pela cidade de Nova York teve a maior surpresa: viram ainda que trajado, o herói servindo com respeito ao trabalho dos profissionais que lutam pela vida da cidade dia após dia, o Peter Parker/Homem-Aranha com a mente e o propósito de pé desde que foi criado nos primórdios da Marvel Comics. 

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